segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA DISFAGIA UTILIZADOS EM CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL NO BRASIL

CAPÍTULO IX
Coletâneas em Saúde – Volume V


INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA DISFAGIA UTILIZADOS EM CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL NO BRASIL


Sara Virgínia Paiva-Santos1
Brenda Carla Lima Araújo2
Thales Rafael Correia de Melo Lima3
Claudia Sordi4
Sheila Schneiberg4

1 Especialista em Disfagia – Conselho Federal de Fonoaudiologia.
2 Professora Assistente – Universidade Federal de Sergipe
3 Especialização em Audiologia – Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira.
4 Professora Adjunta – Universidade Federal de Sergipe.


INTRODUÇÃO


           Crianças com Paralisia Cerebral (PC) podem apresentar comprometimentos na função de deglutição, que vão desde alterações na captação do alimento até presença de sinais sugestivos de penetração laríngea e/ou aspiração. Assim, a avaliação da deglutição nessas crianças deve ser realizada de forma criteriosa, visto que em 90% desses casos a disfagia é uma comorbidade presente. 

           Qualquer sintoma relacionado com a alteração no ato de deglutir que dificulte ou impeça a ingestão oral segura, eficiente, confortável e que pode trazer prejuízos nutricionais e pulmonares deve ser avaliada. Além disso, esse grupo de desordens do movimento e da postura que ocorrem em crianças com paralisia cerebral é de alta incidência no Brasil, de 7/1000 nascimentos1,2.

          Dessa forma, conhecer os instrumentos de avaliação utilizados na área de disfagia no nosso país é fundamental para o direcionamento da intervenção e aprimoramento da prática clínica, uma vez que esses instrumentos facilitam o diagnóstico preciso, a documentação da evolução do paciente ao longo do tratamento e a realização de pesquisa científica pela possibilidade de sistematização e objetividade dos dados3-6. 
       
  O objetivo deste capítulo foi realizar uma revisão da literatura dos instrumentos utilizados para avaliação clínica da disfagia em crianças com paralisia cerebral no Brasil.


MÉTODO

       Foi realizada busca dos artigos nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), utilizando-se os descritores: “disfagia”, “paralisia cerebral” e “escalas”, bem como a associação entre eles, todos no campo “título”. A busca foi realizada no mês de abril de 2016, dos artigos publicado nos últimos quinze anos.
    
   Foram incluídos artigos brasileiros que na sua metodologia avaliaram a deglutição em crianças com paralisia cerebral e, posteriormente, foram identificados os instrumentos de avaliação utilizados. Para isso, foi realizada leitura prévia dos resumos dos artigos encontrados, identificação dos trabalhos duplicados e selecionados para leitura na íntegra aqueles artigos que versavam sobre o tema em estudo. Foram excluídos os trabalhos que não foram feitos no Brasil, bem como os de língua inglesa e espanhola ou que não avaliaram a funcionalidade da deglutição.


RESULTADOS

        Após a busca nas bases de dados supracitadas, foram encontrados ao todo 51 artigos. Destes, 38 não foram incluídos na pesquisa, pois 23 não tratavam sobre o tema da pesquisa incluindo os critérios definidos, oito estavam duplicados e sete não eram brasileiros ou não foram escritos em português, conforme especifica o fluxograma abaixo (Figura 1).





         Na base de dados SciELO foram encontrados 11 artigos sobre o tema em estudo, sendo que sete deles avaliaram a deglutição em crianças com paralisia cerebral. Os trabalhos foram publicados no período de 2001 a 2013 (conforme Quadro 1). Na base de dados LILACS foram encontrados 22 artigos sobre o tema, sendo que apenas seis cumpriram os interesses do estudo. Na BIREME não foram encontrados estudos brasileiros, apenas um estudo espanhol e seis ingleses.






      Dos artigos incluídos, nota-se que apenas 46% utilizaram alguma escala ou protocolo de avaliação da deglutição. Observa-se que a escala mais utilizada (15,3% dos estudos) foi a Functional Oral Intake Scale (FOIS)10,14, para evidenciar o nível de ingestão pela via oral, seguido dos Protocolos ROGS11 (7,7%), Protocolo descrito por Junqueira;Costa17 (7,7%), check lists/escala de frequência de salivação13 (7,7%) e protocolos confeccionados pelos autores16 (7,7%).

         Outros métodos utilizados no processo de avaliação clínica da deglutição, pelos fonoaudiólogos brasileiros, incluíram: anamnese, avaliação fonoaudiológica clínica seguida de avaliação funcional da deglutição, com a oferta de diferentes consistências alimentares, ausculta cervical da deglutição, classificação do grau de disfagia, além dos já citados: escala FOIS, check list, escalas de frequência de salivação e informações complementares da evolução nutricional e pulmonar7,8,9,12,15,18,19.

         Por outro lado, algumas técnicas de avaliação instrumental vêm sendo aperfeiçoadas e descritas na literatura, fornecendo dados cada vez mais precisos de acordo com seus objetivos e limitações, dentre elas destacam-se: a videofluoroscopia da deglutição (VFD), a avaliação endoscópica da deglutição (AED), a eletromiografia de superfície, a ultrassonografia, o sonar doppler e a endoscopia virtual por tomografia computadorizada com software de reconstrução20,21. Dentre essas, as mais utilizadas no diagnóstico das disfagias são a VFD e a AED.

         Assim, os resultados desta busca evidenciaram que a avaliação da disfagia em crianças com PC no Brasil não tem utilizado ainda, de forma sistemática, escalas validadas com medidas psicométricas bem estabelecidas, sendo utilizados, em sua maioria, protocolos de avaliação construídos pelos próprios avaliadores/pesquisadores; de fato, a utilização de instrumentos validados na população brasileira permitiria a utilização de resultados ainda mais fidedignos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


         Esta revisão da literatura dos instrumentos utilizados para avaliação da disfagia em crianças com paralisia cerebral mostrou que a prática clínica no Brasil já tem utilizado escalas de avaliação, mas que fica evidente a necessidade de utilização de escalas validadas na população brasileira para garantia de dados mais confiáveis, seguros e reprodutíveis.



REFERÊNCIAS

1. Jotz GP, Dornelles S. Fisiologia da deglutição. In: Jotz GP, Angelis EC de, Barros APB. Tratado de deglutição e disfagia no adulto e na criança. Rio de Janeiro: Revinter; 2009. p. 16-9.

2. Corrie EE, Karen van H, Jan JR, Michel AAPW, Peter HJ. Clinical practice: swallowing problems in cerebral palsy. Eur J Pediatr. 2012; 171(3):409-14.

3. Morgan AT, Dodrill P, Ward EC. Interventions for oropharyngeal dysphagia in children with neurological impairment. Cochrane Database Syst Rev. 2015; 17(10):1-35.

4. Amaral M, Paula RL, Drummond A, Dunn L, Mancini C. Tradução do questionário Children Helping Out – Responsibilities, Expectations and Supports (CHORES) para o português - Brasil: equivalências semântica, idiomática, conceitual, experiencial e administração em crianças e adolescentes normais e com paralisia cerebral. Rev Bras Fisioter. 2012;16(6):515-22.

5. Giusti E, Befi-Lopes DM. Tradução e adaptação transcultural de instrumentos estrangeiros para o Português Brasileiro (PB). Pro-Fono R. Atual. Cient. 2008; 20(3):207-10.

6. Magalhães Júnior HV, Pernambuco LA, Souza LBR, Ferreira MAF, Lima KC. Tradução e adaptação transcultural do Northwestern Dysphagia Patient Check Sheet para o português brasileiro. CoDAS 2013; 25(4):369-74.

7. Lustre NS, Freire TRB, Silvério CC. Medidas de tempo de trânsito oral em crianças com paralisia cerebral de diferentes níveis motores e sua relação com o grau de severidade para disfagia. ACR 2013; 18(3):155-61.

8. Vianna CIO, Suzuki HS. Paralisia cerebral: análise dos padrões da deglutição antes e após intervenção fonoaudiológica. Rev. CEFAC. 2011;13(5):790-800.

9. Silvério CC, Henrique CS. Paciente com paralisa cerebral coreoatetóide: evolução clínica pós-intervenção. Rev. CEFAC. 2010; 12(2):250-6.

10. Furkim AM, Duarte ST, Sacco AFB, Soria FS. O uso da ausculta cervical na inferência de aspiração traqueal em crianças com paralisia cerebral. Rev.CEFAC. 2009; 11(4):624-9.

11. Silvério CC, Henrique CS. Indicadores da evolução do paciente com paralisia cerebral e disfagia orofaríngea após intervenção terapêutica. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009; 14(3):381-6.

12. Lucchi C, Florio CPF, Silverio CC, Reis TM. Incidência de disfagia orofaríngea em pacientes com paralisia cerebral do tipo tetraparéticos espásticos institucionalizados. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009; 14(2):172-6.

13. Manrique D, Melo ECM, Buhler RB. Avaliação nasofibrolaringoscópica da deglutição em crianças. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2001; 67(6):796-801.

14. Queiroz MAS, Andrade ISN, Haguette RCB, Haguette EF. Avaliação clínica e objetiva da deglutição em crianças com paralisia cerebral. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011; 16(2):210-4.

15. Ribeiro MO, Rahal RO, Kokanj AS, Bittar DP. O uso da bandagem elástica Kinesio no controle da sialorréia em crianças com paralisia cerebral. Acta Fisiatr 2009; 16(4):168-72.

16. Marrara JL, Duca AP, Dantas RO, Trawizki LVV, Lima RAC, Pereira JC. Deglutição em crianças com alterações neurológicas: avaliação clínica e videofluoroscópica. Pró-Fono 2008; 20(4):231-6.

17. Vivone GP, Tavares MMM, Bartolomeu RS, Nemr K, Chiappetta ALML. Análise da consistência alimentar e tempo de deglutição em crianças com paralisia cerebral tetraplégica espástica. Rev CEFAC 2007; 9(4):504-11.

18. Yamada EK, Siqueira KO, Xerez D, Koch HÁ, Costa MMB. A influência das fases oral e faríngea na dinâmica da deglutição. Arq Gastroenterol 2004; 41(1):18-23.

19. Furkim AM, Behlau MS, Weckx LLM. Avaliação clínica e videofluoroscópica da deglutição em crianças com paralisia cerebral tetraparética espástica. Arq Neuropsiquiatr 2003; 61(3-A):611-6.

20. Lynch CS, Chammas MC, Mansur LL, Cerri GG. Biomecânica ultra-sonográfica da deglutição: estudo preliminar. Radiol Bras 2008;41(4):241-44.

21. Santos RS, Filho EDM. Sonar Doppler as na Instrument of Deglutition Evaluation. Arch. Otorhinolaryngol. 2006;10(3):182-91.


Como citar este capítulo:

Paiva-Santos SV, Araújo BCL, Lima TRCM, Sordi C, Schneiberg S. Instrumentos de avaliação da disfagia utilizados em crianças com paralisia cerebral no Brasil. In: Sordi C, César CPHAR, Paranhos LR, organizadores. Coletâneas em saúde. São José dos Pinhais: Editora Plena; 2016. 5v. p.

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P 223c SORDI, Cláudia; CÉSAR, Carla Patrícia Hernandez Alves
Ribeiro; PARANHOS, Luiz Renato; (org.) - Coletâneas em
Saúde - Volume V - São José dos Pinhais: Editora Plena,
2016. 120p.
ISBN: 978-85-64327-23-8
1. Odontologia. 2. Fisioterapia. 3. Fonoaudiologia.
4. Medicina. 5. Multidisciplinar.
I. Título
CDD: 617.6

quinta-feira, 21 de abril de 2016

ORIENTAÇÕES SOBRE SAÚDE VOCAL


Evite os seguintes hábitos:

- Ingestão de álcool e/ou bebidas alcoólicas (pois, funcionam como um anestésico das pregas vocais, permitindo maior abuso vocal);
- Exposição ao ar condicionado (causa ressecamento do trato vocal);
- O “choque térmico”, que é a mudança brusca de temperatura (ar condicionado=>sol), reduz as defesas do organismo, faz aumentar a produção de muco e provoca o pigarro;
- Gritar (pode causar trauma vocal);

- Pigarrear (agressão as pregas vocais e pode causar trauma vocal), prefira engolir a saliva;
- O fumo (alto índice de câncer de laringe);
- Uso de drogas (cocaína, maconha e derivados);
- Evite comer chocolate, acarajé, corantes, tomar café, comidas muito temperadas antes do uso intensivo da voz; opte por uma alimentação mais leve, menos gordurosa e menos condimentada;
- Procure vestir roupas não-apertadas na região costal. Roupas apertadas dificultam a respiração e exigem maior esforço respiratório;
- Beba bastante água. O recomendado é que se beba 2 litros de água por dia. Adote o hábito de levar sempre uma garrafinha de água natural para estimular esse hábito. A hidratação vocal reduz o pigarro, sintoma muito comum em profissionais da voz (professores, cantores, locutores, etc.);

- Evite a auto-medicação. Não tome remédios por conta própria;
- Não fale sussurrando, você pode estar causando tensão as suas pregas vocais;
- Procure não falar alto. O abuso vocal predispõe muitas patologias;
- Procure fazer alguma atividade física (correr, nadar, etc.)
- Evite a competição sonora. Falar na presença de som muito alto/barulho faz você abusar da sua voz por ter que falar mais alto;

- quando a mulher está menstruada é normal leve “inchaço” nas pregas vocais, a voz ficar mais grave e rouca. Evite abusar da voz nesse período.
- A falta de repouso adequado influencia na qualidade da sua voz. Procure dormir o suficiente. O sono é um ótimo repouso da sua voz e libera as tensões do seu corpo;
- O uso de pastilhas, balas de gengibre, sprays, anestesiam a faringe dando uma sensação de frescor e alívio. Uma vez que dão a sensação de melhora, fazem você se sentir à vontade para abusar da sua voz. Quando a sensação passar seus sintomas vocais retornarão. 


Estimule a Linguagem na Criança: Compreensão e Expressão Verbal_Destinado aos Pais e Cuidadores de Crianças

Estimule a Linguagem na Criança:

Compreensão e Expressão Verbal

Destinado aos Pais e Cuidadores de Crianças




Atividades que favorecem o desenvolvimento da Compreensão Verbal:

● Associem o gesto à fala, em expressões do cotidiano: “tchau, vem cá, ali, aqui, eu, você”;
● Digam o nome das coisas e objetos que o rodeia, por categorias, de forma aumentar o vocabulário: partes do corpo (enquanto se veste ou toma banho), peças de roupa (à medida que se veste ou que se despe), alimentos (quando faz compras, cozinha ou durante as refeições), nomes de locais que vai com freqüência (a escola, a sua casa, a dos avós, o supermercado, etc), animais, cores (da roupa, dos lápis, etc);
● Recortem figuras de revistas/folhetos e colem num caderno (folhas brancas), agrupando por categorias;
● Joguem o “jogo de categorias”: primeiro definir a categoria (por exemplo: animais) e depois cada jogador nomeia um elemento (por exemplo: cão, gato, pato...);
● Joguem o “jogo de contrários”: peça à criança para completar as frases (por exemplo: o contrário de grande é..., o contrário de quente é...) e dê exemplos: elefante (grande)/rato (pequeno); sopa (quente)/gelado (frio);
● Descrevam o que estão a fazer, a ver, ouvir e/ou sentir;
● Brincar ao “para que serve?” em que a criança descubra para que servem os objetos (bebo água no..., corto o pão com a..., penteio o cabelo com o..., lavo as mãos na...).



Atividades que favorecem o desenvolvimento da Expressão Verbal:

● Contar história, fazer em conjunto com o pai ou a mãe, em que um deles lê uma página do livro e o filho conta o que acontece na seguinte;
● Ser a criança a contar a história (noite) aos pais, utilizando livros que predominem imagens;
● Aprender canções simples, pouco elaboradas e cantá-las na hora do banho ou da brincadeira, ao deitar, no carro, etc;
● Relatar em conjunto como correu o vosso dia de trabalho, de forma a que ele também conte o que aconteceu na escola;
● Fazer desenhos e criar a história deles, por escrito (pai ou mãe) ou oralmente;
● Contar uma história conhecida sem ajuda de ilustrações, como “Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, Cinderela”, etc;
● Brincar ao jogo simbólico/o jogo do ”faz de conta”;
● Dar pistas verbais, para que a criança descubra do que estão a falar. Por exemplo: é amarelo, é quente, é redondo, vive no céu... é o sol;
● Aprender rimas e cantá-las.